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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A Furna Misteriosa - 1ª Nota


(Ascenção - Gilvan Samico - Ficha Técnica: 2004. Xilogravura 93,2 x 53,5 cm)

“A Furna Misteriosa”
1ª Nota

“Chame o Povo e metam o pé na Estrada, que, se vocês acharem a minha Furna, vão encontrar o Ouro, a Prata e os Diamantes! Ganham a Coroa da Pedra Cristalina, e eu, ainda por cima, faço a felicidade de vocês!”
(Ariano Suassuna – Romance d’A Pedra do Reino¹)


Dedicatória
Aos da minha Real e querida Aldeia Sisaleira!
E aos demais...

 Nobres leitores e leitoras, é Ano Novo, aqui, sentado na cadeira de réu, diante dos olhos de todos que me leem, inicio mais uma Aventura pelas veredas das Letras. Enquanto risco um verso e outro, me vi tentado a prosear algumas observações, inquirições diversas a respeito dos mais diversos assuntos. Como observaram os Vossos olhos de águia, o título dessa Coluna, que ainda não tem cronograma definido de publicação, é “A Furna Misteriosa”, inspirado no Cantar da “Airesiana Brasileira n° 1”, do Nobre e Real escritor Ariano Suassuna, a quem dedico meus estudos enquanto pesquisador e estudioso da Literatura, almejando apenas fazer aparecer leituras e discussões pertinentes a respeito de sua obra.
Pois bem, como eu vinha dizendo, nesses novos tempos de mais um tempo que se inicia, após o corte que o calendário ocidental nos dedica, e passadas as felicitações todas que foram derramadas junto com as Sidras Mundo à fora, a hora agora é de se colocar todos os sentimentos e aspirações em prática. Agora, mais do que nunca, o que o mundo precisa, bem como a minha Nobre, Real e querida Aldeia Sisaleira, é de ação. Passos que coloquem em prática todos os discursos proferidos entre abraços e laços que se (re)construíram entre um abraço e outro, entre uma confraternização e outra, entre um sms e outro, entre uma postagem, uma curtida e coisa e tal...

sábado, 15 de junho de 2013

Protestos no Brasil

A causa de vinte centavos ou Os homens (não) de pouca causa


Às vésperas do início da Copa das Confederações, quando o mundo volta seus olhares para o Brasil, o país foi acometido por uma onda de protestos organizados de dentro das Redes Sociais, por estudantes e movimentos estudantis, muitos, empunhando bandeiras vermelhas, de certo modo, até desbotadas.
É um movimento que há muito não se via na pátria verde e amarela, desde “Os caras pintadas” na década de 1990, no século passado, os novos intelectuais não se levantavam com tanto fervor. Os protestos surgiram inicialmente em Natal (RN) e chegaram as capitais do sudeste e se espalharam pelo país, Niterói (RJ), Goiânia (GO) e Porto Alegre (RS) abrigaram levantes contrários ao aumento da passagem no transporte público. Essa semana a repercussão na mídia nacional começou, quando os protestos ganharam as ruas de São Paulo e Rio de Janeiro. Agora, a imprensa internacional também já repercute os fatos. Aliás, a intensidade da cobertura da mídia alavanca apenas a violência dos protestos,  mostrando os finalmente entre policiais e protestantes, fazendo terror, ao ressaltar o lado dos vândalos que se juntam ao movimento para depredar o patrimônio público. As redes sociais mostram que as flores também são apontadas para os policiais por grupos solitários, que levantam questões e cartazes diversos, para serem realmente ouvidos e não medidos por causa de vinte centavos.
Daqui, do Reino do dendê, já vemos nas Redes sociais estudantes de trinta (30) anos prometendo o levante em Salvador. Dentre as maiores capitais brasileiras, a Cidade da Bahia foi a única que, até o momento, não sinaliza aumento de passagem, mas a renovação na frota de ônibus, através de processo licitatório já anunciado pela prefeitura.
Diante de tanta repercussão, de tantas opiniões espelhadas pela mídia tradicional, e tantos depoimentos difundidos pelas redes sociais ao vivo e em imagens diversas, lanço aqui alguns questionamentos que, a meu ver, não podem faltar na análise desse momento. Afinal de contas, qual seria o real significado e objetivo desse movimento que se intitula “Passe livre”? Conseguir não pagar mais vinte centavos na passagem? Conseguir a liberalização da maconha? Demonstrar o tamanho da nossa liberdade de expressão? Mostrar que a UNE não se vendeu? Fazer viver o PSTU? Reclamar da corrupção e dos gastos excessivos para a realização da Copa do mundo?
Estaríamos vivendo uma guerra entre estudantes e militares, por causa de vinte centavos, como os jornais querem nos fazer acreditar? Seria essa a causa que realmente merece  esforços e cobertura, num país onde a corrida presidencial está em pleno vapor, a mais de um ano para o início das eleições de 2014? Que tipo de jogo político está sendo manipulado nos bastidores de tudo isso? Com certeza todos os corajosos leitores teriam suas próprias respostas para todos esses questionamentos, e teriam muito mais questionamentos a fazer.
Novos movimentos já estão sendo preparados para a próxima semana no Sudeste, já existem boatos de que em São Paulo torcidas organizadas de times estão convocando as organizadas de clubes rivais para ajudar nos protestos. Imaginem todos juntos nas ruas! Estariam armados ou não? No Rio de Janeiro há boatos de que o movimento irá lançar uma pauta mais significativa, protestando por melhores condições na educação, por exemplo. Os governos municipais e estaduais já manifestam desejo de sentarem-se à mesa com os líderes dos movimentos e dialogar. Teríamos então novos líderes surgindo desse movimento? Quem seria o representante das vozes das redes sociais?
Tenho fé que, na somatória das contas, a luta e a causa se alargue, que vinte centavos seja apenas o estopim, para que se busque mesmo uma reforma política, uma reforma tributária, social e educacional, o não cerceamento do poder do ministério público, o não cerceamento do poder do Supremo em contraposição aos nossos legisladores, enfim. 
Que não sejamos homens de pouca causa! Que saibamos significar o valor real desses benditos vinte centavos!


Por: Gildeone dos Santos Oliveira

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O teto


Ao ler o livro "A dama da solidão", de Paula Parisot, me deparei com bons contos, um em especial chamou a minha atenção, pois me faz refletir bastante sobre a possibilidade de observar um novo teto diante de mim mesmo. Me faz ter vontade de afiar o punho, afiar a marreta, derrubar certas paredes e admirar um céu estrelado, deixar-se conduzir pelo sorriso das estrelas que brilham intensamente novos  horizontes!
Compartilho aqui o conto, para os que desconhecem ou desejam conhecê-lo.

(Falling 2004 - Gül Ilgaz - Istanbul Museum of Modern Art

O teto

Marcos entrou em seu quarto, deitou-se na cama sem tirar a roupa. Olhou para o teto, branco, desbotado pelo tempo.
Girou a cabeça para um lado e notou que uma das portas do armário estava entreaberta, permitindo que ele visse roupas da sua mulher.
Voltou a olhar para o teto. Não ouviu nada, nem o desassossegado bater do seu peito. Aquele silêncio lhe dava certa aflição.
Ofegante, não conseguia respirar, sentia-se sufocado por suas recordações.
Olhou para o teto que lentamente baixava sobre ele. Marcos não se moveu, permaneceu prostrado na cama, sem saber por quanto tempo.
O teto continuava baixando. Seu espaço se reduzia.
Ele enfiou o rosto no lençol, na fronha do travesseiro, e tentou aspirar fundo, queria dormir.
À espera do sono que quase nunca vinha, olhava para o teto que continuava a baixar, aproximando-se cada vez mais da sua cabeça, como se fosse prensá-lo contra o chão.
Notou uma imperfeição no teto. Sentou-se na cama. De perto, conseguiu ver uma espécie de furo. Um buraco. Marcos enfiou a ponta, depois o dedo inteiro. Ao tirá-lo arrancou um pedaço do teto.
Ficou em pé na cama e olhou pelo buraquinho. Não viu nada, só breu. Sentou-se novamente na cama. Pensava no buraco que dava para a escuridão.
Levantou-se e deu um soco no teto, e outro soco, o buraco aumentou. Com as mãos Marcos arrancou as bordas do buraco. Ficou na ponta dos pés e enfiou a cabeça pela abertura que fizera.
Viu a mesma coisa que antes. Continuou com a cabeça enfiada ali e sua vista foi se acostumando. Depois de algum tempo distinguiu algo que pareciam pirilampos voando.
Era o céu.
Tirou a cabeça do buraco. Foi buscar uma marreta.
Subiu na cama e começou a bater com a marreta no teto.
A cada marretada via caírem ao chão pedaços de gesso e cimento.
O teto foi todo destruído e o céu entrou inteiro pelo seu quarto.
Marcos deitou-se sobre os destroços e ficou olhando.



(PARISOT, Paula. A dama da solidão: contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. (p. 72-73))

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Conto


Nobres Senhores leitores e belas Damas leitoras do sorriso doce, que acompanham o Curtindo Linguagens. Hoje apresento a Vossas Senhorias um pequeno conto. Tenho me aventurado pouco na narrativa, por isso, os textos pouco aparecem aqui no blogue. Hoje resolvi postar esse pequeno conto, produzido certa feita numa oficina de criação literária. Eis o texto, ele surgiu nas imaginações fantasiosas do narrador. Leiam e julguem como lhes aprouver.

Do Sertão ensolarado, em pleno verão.
O autor!


CASAMENTO

Era noite, a cidade já dormia, mas na rua algumas vozes soavam ininteligíveis. Também, eu estava viajando num mundo tão meu que não me dava conta daquilo que passava a minha volta.
Na sala, a TV repetia o filme antigo de um contador de estórias. Foi então que Ana atirou seu sapato na minha cabeça. Sentir meu pescoço abaixar em direção ao chão e meus dedos acudiram a dor que saltava da secreção, o tapete manchava-se de vermelho.
Foi então que comecei a ouvir a doce e estridente voz de Ana me acusando.
_ O cheque voltou, vou ter que devolver o vestido na loja; o seguro do carro está atrasado há dois meses, não posso mais utilizar o cartão. Quando você vai pagar a conta do telefone? O chuveiro não esquenta mais, como se não bastasse tudo isso tenho que entregar minha dissertação em uma semana, escrever o último capítulo, arrumar todo texto ainda. Numa hora dessas você na maldita televisão, assistindo sei lá o quê, depois de ter passado o dia no computador, que agora não quer ligar.
Levantei do sofá com a cabeça aos pulos.
_ Desculpe amor, infelizmente não tive inspiração para começar o livro.

  
Por: Gildeone dos Santos Oliveira

domingo, 11 de outubro de 2009

Sol a pino
Sol a pino, borboletas revoam verdes campos num verão chuvoso. A brisa que nasce da paisagem renovada dos sertões toca em meu ser, como ondas de mar calmo. Num andar de leves passos, observo as fagulhas do sol que inundam a paisagem.
Paro.
Adiante surge a cidade trêmula entre seus concretos de medo. Na solidão ardente de buzinas e fumaça surge no ar urbano máscaras de pânico, que observam meu olhar lacrimejante.
Temeroso, viro-me e diante de mim percebo um cacto gigante que espalha pelo ar seus tentáculos espinhentos. Braços que bailam ao sabor do vento, flamejando uma intensidade amarela refletida pelo sol.
E, como uma borboleta a apreciar sua flor, encosto a beira da estada com os olhos dormentes de luzes. Debaixo de uma umburana agacho e sento na terra que suporta meus pensamentos, no embalo de uma brisa leve.
Aterrorizado pelo mar de calor sinto entre meus dedos o clamor da mãe Terra, o seu grito de socorro. Como reflexo do ar iluminado e ardente, meu peito treme angustiado, enquanto um leve sono me toma na sombra da majestosa umburana. Acordo, assustado, observo o mandacaru ardendo em seus tentáculos, inerte, diante de uma estrada que leva a antigos morros, agora habitados por uma raça de seres apressados na correria da máquina modera.
Máquinas espelham em meu ser essa máscara de medo que o sol a pino ilumina.
Gildeone dos Santos Oiveira