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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Reunião

Nobres leitores e belas Damas leitoras, hoje apresento-lhes mais um grande texto da Literatura Brasileira. Desta vez, a seção REUNIÃO apresenta um poema de autoria do Cavaleiro Sertanejo e Palhaço do Circo da Onça Malhada, Dom Ariano Suassuna, autor do Auto da Compadecida e do Romance d'A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta, uma das maiores obras da Literatura Brasileira e mundial. Ariano é um escritor e dramaturgo consagrado, mas sua poesia ainda é muito desconhecida por boa parte do público leitor. O poema "A Cidade e o Sertão ou Soneto de Babilônia e Sião", está publicado no Seleta em prosa e verso, livro organizado por Silviano Santiago com 1ª edição em 1974, e 2ª edição em 2007.

(Eu e Ariano Suassuna - Foto tirada após a Aula-Espetáculo ROMANÇÁRIO, 06/12/2010, Teatro Santa Isabel, Recife. PE)

Para que Vossas Excelências apreciem ainda mais o poema de Dom Ariano Suassuna, além do texto, insiro também a Iluminogravura, intitulada "Soneto de Babilônia e Sertão", incluída no álbum "Sonetos de Albano Cervonegro", que o autor chegou a publicar com tiragem de 50 exemplares.

Apreciem! Inté, O autor !


A CIDADE E O SERTÃO
OU
SONETO DE BABILÔNIA E SIÃO
(Com tema de Tupan Sete)

Aqui, o Corvo azul da Suspeição
apodrece nas Frutas violetas,
e a Febre escusa, a Rosa da infecção,
canta aos Tigres de verde e malhas pretas.

Lá, no pêlo de cobre do Alazão,
o Bilro de ouro fia a Lã vermelha.
Um Pio de metal é o Gavião
e suave é o focinho das Ovelhas.

Aqui, o Lodo mancha o Gato Pardo:
a Lua esverdeada sai do Mangue
e apodrece, no medo, o Desbarato.

Lá, é fogo e limalha a Estrela esparsa:
o Sol da morte luz no sol do Sangue,
mas cresce a Solidão e sonha a Garça.


A  Iluminogravura que apresentamos foi extraída do Cadernos de Literatura Brasileira (2000 - edição n° 10), do Instituto Moreira Sales, em homenagem ao autor.

A nível de anotação, sobre  o “Soneto de Babilônia e Sião”, Carlos Newton Júnior, um dos grandes estudiosos da obra de Ariano, afirma que:

"O poeta, fazendo-se valer dos advérbios de lugar aqui e , no início das estrofes (como na Canção do Exílio, de Gonçalves Dias), faz uma comparação entre a cidade, onde reside, e o sertão, terra de sua infância. Como explica o autor, na parte em prosa da Vida-Nova Sertaneja, a palavra sertão, pela própria semelhança sonora com sião, lembrava-lhe a sua terra prometida, o sonho edênico de todo homem. Neste poema, o exílio, portanto, é um exílio físico, e fica evidente, na leitura, a preferência do autor pelo seu “lugar de nascimento”. Esta preferência é reforçada por circunstâncias específicas – as perseguições políticas iniciadas com o golpe militar de 64. Logo no primeiro quarteto, para se referir aos militares, o poeta usa a expressão 'Tigre de verdes e malhas pretas'”. (NEWTON JÚNIOR, 1999, p. 197-198).

Mais informações sobre a poesia e obra de Ariano Suassuna:

CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA. Ariano Suassuna. Instituto Moreira Sales, número 10, novembro de 2010.

NEWTON JÚNIOR, Carlos. O pai, o exílio e o reino: a poesia armorial de Ariano Suassuna. Recife, PE: Ed. Universitária da UFPE, 1999.

SANTOS, Idelette Muzart Fonseca dos. Em demanda da poética popular: Ariano Suassuna e o Movimento Aramorial. 2. ed. rev. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2009.

SUASSUNA, Ariano. Seleta em prosa e verso. Organização Silviano Santiago. ilustrações Zélia Suassuna. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2007.

SUASSUNA, Ariano. Romance d’A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta. 9.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2007.