domingo, 11 de outubro de 2009

Sol a pino
Sol a pino, borboletas revoam verdes campos num verão chuvoso. A brisa que nasce da paisagem renovada dos sertões toca em meu ser, como ondas de mar calmo. Num andar de leves passos, observo as fagulhas do sol que inundam a paisagem.
Paro.
Adiante surge a cidade trêmula entre seus concretos de medo. Na solidão ardente de buzinas e fumaça surge no ar urbano máscaras de pânico, que observam meu olhar lacrimejante.
Temeroso, viro-me e diante de mim percebo um cacto gigante que espalha pelo ar seus tentáculos espinhentos. Braços que bailam ao sabor do vento, flamejando uma intensidade amarela refletida pelo sol.
E, como uma borboleta a apreciar sua flor, encosto a beira da estada com os olhos dormentes de luzes. Debaixo de uma umburana agacho e sento na terra que suporta meus pensamentos, no embalo de uma brisa leve.
Aterrorizado pelo mar de calor sinto entre meus dedos o clamor da mãe Terra, o seu grito de socorro. Como reflexo do ar iluminado e ardente, meu peito treme angustiado, enquanto um leve sono me toma na sombra da majestosa umburana. Acordo, assustado, observo o mandacaru ardendo em seus tentáculos, inerte, diante de uma estrada que leva a antigos morros, agora habitados por uma raça de seres apressados na correria da máquina modera.
Máquinas espelham em meu ser essa máscara de medo que o sol a pino ilumina.
Gildeone dos Santos Oiveira

Um comentário:

  1. Oi, Gil, gostei do texto. Não sabia que você escrevia prosa. Muito legal. Eu sempre quis escrever prosa, mas nunca consegui. Quando penso em escrever algo, só sai poema. Mas um dia eu chego lá... (rs) Um abraço e parabéns!!

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