Nobres leitores e belas Damas leitoras do Curtindo Linguagens, o livro SANGUE NOVO: 21 poetas baianos do século XXI ganhou mais uma Resenha. O comentário consistente é de autoria do poeta e crítico paulista Silas Correa Leite. Leiam e julguem as palavras do crítico, e ainda, confiram novamente a poesia do SANGUE NOVO, comentem também sobre a razão do existir dessa coletânea da nova poesia baiana.
A razão de existir uma revolta humanista
Albert Camus
Feliz
é o povo que produz e consome a sua própria cultura. E a Bahia tem
história e fama nas loucas criações de todos os tempos em todos os tipos
de arte e em todos os estilos, inclusive de vanguarda retumbante.
Poesia, então, entre as melhores. Castro Alves que o diga. Para não
dizer que não falei de flores, cantos e terras, bahianidades e
experimentações, eis a Antologia SANGUE NOVO, seleção, notas e
organização editorial do também grande Poeta José Inácio Vieira de Melo,
Editora Escrituras, Ano 2011.
E
os 21 escolhidos por qualidade e historial lítero-cultural agrega entre
outros Alexandre Coutinho, Clarissa Macedo, Fabrício de Queiroz
Venâncio, Gibran Sousa, Gildeone dos Santos Oliveira, Saulo Moreira e
Vitor Nascimento Sá, mas todos eles poetas aqui e ali experimentadores
do oficio do fazer poético nesses nossos novos e tumultuados tempos
(estamos no olho do furacão) e dessa mesma geração teflon, esquenta mas
não adere. Será a impossível arte um refinamento de conceitos, pensagens
(pensamentos-mensagens) e resíduos da tal Geração Coca Cola? O faroeste
caboclo pelo jeito é mais pra riba.
O
organizador já enreda: “Os poetas têm conduzido o fogo sagrado da
linguagem que inaugura o ser(...)” (primeira orelha). Manter a chama
acesa. Essa é a idéia-projeto. Searas, trilhas, encruzilhadas,
versejadores de blogues e sites, um verdadeiro, localizado e datado
tabuleiro poético na essência no território literário dessa arguta
bahianidade evocando a vida, o amor à vida, o reconcerto da vida talvez,
até porque, viver não é só fazer parte da banda dos contentes...
Discordar é preciso. Resistir é preciso. A arte como libertação? Saravá
Glauber Rocha! Ave Jorge Amado. “Respeito muito minhas lágrimas”, já
Caetaneou o Veloso de Santo Amaro da Purificação...
Mayrant
Gallo abre a obra com um magnífico prefácio de dezenove páginas que
cirurgicamente arbitra autor por autor, emprestando ao livro um tom
histórico que endossa a envergadura desses iniciantes, experimentadores,
poetas de SANGUE NOVO como se intitula a bem apropriada e bem sacada
coletânea. Antologias desse estilo valem o seu tempo e as asas
criacionais de seu povo, seu tempo e lugar.
Delitos
incendiados um a um (Bernardo Almeida), sorrisos nos espelhos (Edson
Oliveira), versos tragados do universo (Gildeone dos Santos Oliveira),
farpas, argilas e outros “mins” de Priscila Fernandes; o “fog”
clarifica, a obra se encorpa; antologia e macadame de versos que saltam
aos olhos a sensibilidade irônica, crítica, sonhadora, contundente.
Sangue Novo dizendo a que veio. Faz
sentido esses tempos tenebrosos como já muito bem cantou Bertold
Brecht, quando também dizia que tudo que está perfeito e acabado está
podre, e o Sangue Novo ainda abunda, viça, em guarda evoca, atiça e
sangra um (esse livro) achadouro contemporâneo. Poesia sangria desatada?
Cada
autor participante tem um pequeno currículo/bibliografia de seu
trabalho ainda em tão tenra idade, mas, como já dizia o velho sábio
Salomão, o maior juiz é o tempo, esse sangue novo com o tempo consagrará
quem será mesmo o poeta de alto relevo, quem será o predado, quem usará
a veia criativa para destilar o vinho-verbo, o vinho-verso, o sangue
novo, o testemunho, o ser de si, o avesso de si, o registro verdadeiro e
profundo de almas deslavadas buscando o atiço da vida louca, louca
vida.
Sentir
a vida. Amar a vida. Experi/Mentar a vida; dizê-la, vivê-la,
contestá-la. O fogo da juventude, a força e a loucura santa. Esse Sangue
Novo nutre e aponta uma geração. A obra vale o seu peso. O livro valeu a
idéia. Além de rocks, raps, grafites e outros barracos, Sangue Novo
registra Poesia em fervura. Um salve geral para aqueles que gritam esses
novos tempos insanos que, datados poeticamente, fermentam
reivindicações, purgações, chorumes e versos cheios de esperança. Sim,
porque, afinal, a esperança ainda é, principalmente para os jovens, a
inteligência da vida. Sobreviver é sangrar. O absurdo cria a energia
dessa arte sobrevivencial, amarrando forças e fazendo sentido para a
poesia ser encorajada, editada, veiculada, dizer seu nome, Sangue Novo
salpicando de lágrimas, luzes e contundências esse nosso chão.
Silas
Correa Leite é Teórico da Educação, Jornalista Comunitário, Poeta e
Ficcionista. Publicou os livros Porta-Lapsos (poemas) e Campo de Trigo
com Corvos (Contos).
(Resenha publicada também no blog SANGUE NOVO)